Deriva Genética:

Quando falamos de evolução, a primeira coisa que costuma vir à mente é a seleção natural — o processo em que indivíduos mais adaptados ao ambiente sobrevivem e deixam mais descendentes. Mas existe um outro mecanismo evolutivo igualmente importante, embora menos intuitivo: a deriva genética.

A deriva genética não tem relação direta com a adaptação ou com “ser mais apto”, mas sim com o fator sorte. Ela descreve como, ao longo do tempo, mudanças aleatórias nas frequências dos genes (alelos) podem ocorrer em uma população. Essa flutuação, embora aleatória, pode ter consequências profundas, incluindo a fixação ou perda completa de variantes genéticas, independente de serem boas ou ruins para a sobrevivência.

Vamos entender em detalhes o que é a deriva genética, como ela funciona, quando ocorre, e por que ela é tão importante na genética das populações e na evolução das espécies.


📌 O que é deriva genética?

A deriva genética (ou deriva gênica) é uma alteração aleatória nas frequências alélicas de uma população, de uma geração para outra. Isso significa que, simplesmente por acaso, certos alelos (formas de um gene) podem se tornar mais comuns ou desaparecer, mesmo que não ofereçam vantagem ou desvantagem adaptativa.

Diferente da seleção natural, que depende de pressões ambientais e vantagens adaptativas, a deriva é puramente estatística e imprevisível. É como lançar uma moeda várias vezes — mesmo sendo 50% cara e 50% coroa, você pode, por acaso, ter uma sequência só de caras em algum momento. Com os alelos nas populações acontece o mesmo.


🎲 Como a deriva genética funciona?

Para entender melhor, imagine uma população pequena com apenas 10 indivíduos. Suponha que exista um gene com dois alelos possíveis: A e a. A frequência de A e de a nesta população pode começar em 50% para cada um.

Agora imagine que, por acaso, alguns indivíduos não deixam descendentes, ou seus filhos herdaram aleatoriamente mais cópias de um alelo do que de outro. Ao longo de algumas gerações, esse alelo pode dominar completamente a população ou desaparecer — não por ser melhor, mas apenas pelo acaso nas heranças e nas reproduções.

Com o tempo, essa flutuação genética aleatória pode fazer com que:

  • Um alelo se fixe (100% da população tem ele);
  • Um alelo se perca (desaparece totalmente da população).

Essas mudanças são mais rápidas e intensas em populações pequenas. Em populações grandes, o “efeito estatístico” se dilui e a deriva tem menor impacto.


📉 Efeitos da deriva genética

Os principais efeitos observados da deriva genética são:

1. Perda de variabilidade genética

Alelos raros podem desaparecer simplesmente por não serem herdados, o que reduz a diversidade genética da população. Com menos diversidade, a população pode se tornar mais vulnerável a doenças e mudanças ambientais.

2. Fixação de alelos neutros ou deletérios

A deriva pode levar à fixação de um alelo que não confere nenhuma vantagem (alelo neutro), ou até de um alelo levemente prejudicial, se por acaso ele for o mais herdado.

3. Divergência entre populações

Populações que se separam e evoluem sob deriva genética podem acumular diferenças genéticas ao acaso, mesmo sem sofrer pressões seletivas distintas. Isso contribui para a formação de novas espécies (especiação).


🌍 Exemplos de situações onde a deriva genética ocorre

🔸 1. Efeito fundador

Acontece quando um pequeno grupo se separa de uma população maior e forma uma nova população. Esse grupo leva consigo apenas uma amostra limitada da variabilidade genética original.

Exemplo clássico: uma ilha é colonizada por poucos indivíduos. Os alelos presentes nesse grupo inicial terão grande impacto na genética futura da população da ilha, e muitos alelos da população original podem não estar representados.

🔸 2. Efeito gargalo (bottleneck)

Surge quando uma população sofre uma redução drástica de tamanho (por catástrofe, epidemia, caça, etc.) e depois volta a crescer.

Como a nova população é formada por poucos sobreviventes, a diversidade genética é reduzida. A estrutura genética da população após o evento pode ser muito diferente da original — e essa mudança não foi guiada por adaptação, mas pelo acaso de quem sobreviveu.

🔸 3. Populações isoladas ou pequenas

Mesmo sem eventos dramáticos, populações pequenas e isoladas, como as de espécies ameaçadas ou comunidades humanas fechadas, estão mais sujeitas à deriva. Ao longo das gerações, podem perder alelos importantes e sofrer aumento da consanguinidade.


🧬 Deriva genética x Seleção natural

Embora ambos os mecanismos causem mudança nas frequências gênicas, suas naturezas são muito diferentes:

AspectoDeriva GenéticaSeleção Natural
BaseAleatoriedadeAdaptação ao ambiente
Atua mais emPopulações pequenasPopulações grandes e pequenas
Direção da mudançaImprevisívelDirecionada (favorece alelos vantajosos)
Efeito na variabilidadeReduz diversidade genéticaPode aumentar ou reduzir

Importante: ambos os processos podem ocorrer ao mesmo tempo em uma população. Em certas situações, a deriva pode até impedir que a seleção natural atue com eficiência, especialmente quando populações são muito pequenas.


🧪 Como estudar a deriva genética?

A deriva é estudada por meio de:

  • Modelos matemáticos de genética populacional;
  • Simulações por computador (como modelos de Wright-Fisher e de coalescência);
  • Análise de frequências gênicas ao longo do tempo em populações reais.

Ferramentas como o cálculo do desvio padrão das frequências alélicas ou o índice de fixação (FST) ajudam a medir o impacto da deriva em diferentes populações.


🧠 Deriva genética na saúde e nas doenças

A deriva genética tem implicações em áreas como:

  • Genética médica: em populações pequenas ou isoladas, doenças genéticas recessivas podem se tornar mais comuns, mesmo que sejam raras na população geral.
  • Conservação de espécies: em espécies ameaçadas, a deriva pode reduzir a variabilidade genética e aumentar o risco de extinção.
  • Epidemiologia genética: populações com história de efeito fundador podem ter respostas imunológicas diferentes, influenciando na susceptibilidade a infecções.

📖 Conclusão

A deriva genética é um processo natural e poderoso que molda a diversidade das espécies ao longo do tempo — não pela força da adaptação, mas pelo simples acaso. Ela atua silenciosamente, mas pode deixar marcas profundas nas populações, seja promovendo divergência genética, seja eliminando variantes úteis apenas porque não foram sorteadas.

É uma prova de que, na biologia, nem tudo é planejado — e que a evolução é resultado da interação entre forças direcionadas e eventos aleatórios.

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Dra. Fernanda França

Biomédica Patologista clínica, imagenologista e auditora. Criadora de conteúdo didático para estudantes e profissionais da saúde.

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