A sepse é uma das condições mais graves na medicina moderna. Trata-se de uma resposta desregulada do organismo a uma infecção, que pode evoluir rapidamente para falência de múltiplos órgãos e morte. Quando a sepse se torna ainda mais grave e leva à queda significativa da pressão arterial, resistente a fluidos intravenosos, dizemos que o paciente entrou em choque séptico — uma emergência médica.
Segundo a definição atual da Sociedade Internacional de Sepse (Sepsis-3), sepse é:
“Disfunção orgânica ameaçadora à vida causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção.”
Vamos entender isso passo a passo.

🧫 O que causa sepse?
A sepse não é causada por uma bactéria específica, mas sim por qualquer infecção que provoque uma resposta inflamatória sistêmica descontrolada. As causas mais comuns incluem:
- Pneumonias
- Infecções urinárias
- Infecções abdominais (como apendicite ou peritonite)
- Infecções de pele e partes moles (como celulite ou escaras infectadas)
- Infecções hospitalares, especialmente associadas a cateteres e ventiladores
Geralmente, o agente causador é uma bactéria, mas fungos, vírus e parasitas também podem desencadear sepse.
🔥 O que acontece no corpo durante a sepse?
O corpo, ao identificar a infecção, ativa o sistema imunológico para combatê-la. No entanto, na sepse, essa resposta sai do controle:
- Liberação excessiva de citocinas inflamatórias (como TNF-α, IL-1, IL-6)
- Lesão nas células endoteliais dos vasos sanguíneos, levando à vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular
- Fuga de líquidos para fora dos vasos, causando queda da pressão arterial
- Ativação descontrolada da coagulação, com risco de formação de microtrombos nos tecidos
- Disfunção de órgãos como pulmões, rins, fígado e coração
Esse quadro é conhecido como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), que se transforma em sepse quando há disfunção orgânica comprovada.
⚠️ Como identificar a sepse?
Os sinais da sepse podem variar, mas os principais incluem:
- Febre alta ou hipotermia
- Frequência cardíaca elevada (taquicardia)
- Respiração acelerada (taquipneia)
- Confusão mental ou desorientação
- Pressão arterial baixa
- Oligúria (diminuição do volume urinário)
- Palidez ou extremidades frias
- Manchas na pele (em casos graves)
O diagnóstico utiliza o score SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), que avalia a função de órgãos como pulmões, fígado, rins, coagulação, sistema cardiovascular e sistema nervoso central.
A presença de aumento de 2 ou mais pontos no SOFA, associada a uma infecção suspeita ou confirmada, é considerada sepse.
💉 O que é choque séptico?
O choque séptico é a forma mais grave da sepse. Caracteriza-se por:
- Hipotensão persistente mesmo após reposição adequada de fluidos
- Necessidade de uso de vasopressores (medicamentos que elevam a pressão)
- Disfunção celular e metabólica acentuada
- Lactato sérico elevado (indicando má perfusão tecidual)
O risco de morte no choque séptico pode ultrapassar 40-50%, mesmo com tratamento intensivo.
🧪 Exames laboratoriais na sepse
Alguns exames ajudam a identificar e monitorar a sepse:
- Hemograma: leucocitose ou leucopenia, neutrofilia com desvio à esquerda
- PCR e procalcitonina: marcadores de inflamação e infecção bacteriana
- Lactato sérico: acima de 2 mmol/L sugere má perfusão
- Gasometria arterial: acidose metabólica com hipoxemia
- Função renal e hepática alteradas
- Coagulograma: pode mostrar sinais de coagulação intravascular disseminada (CIVD)
- Hemoculturas e culturas de secreções: para identificação do agente infeccioso
🧑⚕️ Como é o tratamento?
O tratamento da sepse e do choque séptico deve ser iniciado imediatamente, idealmente na primeira hora após suspeita clínica. Os pilares do tratamento incluem:
- Antibióticos de amplo espectro, administrados o mais rápido possível
- Reposição volêmica com cristaloides (soro fisiológico ou ringer lactato)
- Vasopressores, como norepinefrina, se a pressão não se normalizar com fluidos
- Controle da fonte da infecção (drenagem de abscessos, remoção de cateteres, cirurgia, etc.)
- Suporte de órgãos, como ventilação mecânica e diálise, se necessário
- Monitoração em UTI
🧠 Sepse não é infecção simples
Uma dúvida comum é a diferença entre infecção comum e sepse. Nem toda infecção leva à sepse. A sepse acontece quando a infecção provoca disfunção de órgãos — um sinal de que o organismo está perdendo o controle da resposta imunológica.
Por exemplo:
- Uma pneumonia simples pode ser tratada com antibióticos em casa.
- Se essa pneumonia evolui para falta de ar intensa, confusão mental e queda de pressão, provavelmente é sepse.
🩸 Consequências da sepse
Mesmo com tratamento, a sepse pode deixar sequelas graves:
- Insuficiência renal crônica
- Danos cardíacos ou pulmonares
- Distúrbios neurológicos (como alterações cognitivas ou delírio)
- Amputações em casos de isquemia grave
- Fadiga persistente e redução da qualidade de vida
Além disso, pacientes que já tiveram sepse têm risco aumentado de novos episódios sépticos no futuro.
📊 Sepse em números
- Estima-se que mais de 49 milhões de pessoas por ano desenvolvam sepse no mundo
- Quase 11 milhões morrem por ano, segundo dados da OMS
- É uma das principais causas de morte nas UTIs
- A maior parte dos casos ocorre em países de baixa e média renda
📖 Conclusão
A sepse é uma condição crítica que exige diagnóstico precoce e tratamento imediato. Diferente de uma infecção comum, ela representa uma falha na regulação da resposta imune, levando à inflamação generalizada, disfunção orgânica e risco de morte. O choque séptico é a evolução mais grave dessa condição, com necessidade de cuidados intensivos.
A conscientização sobre sepse é essencial para salvar vidas — quanto mais cedo se reconhece e trata, maiores as chances de recuperação.
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